Riscos climáticos no setor portuário
Interrupções nas operações portuárias podem se propagar pelas cadeias de suprimentos, resultando em perdas econômicas generalizadas. Uma pesquisa publicada na revista Nature em julho de 2023 chegou a um resultado alarmante:
Anualmente, US$81 bilhões do comércio global e pelo menos US$122 bilhões da atividade econômica mundial estão expostos a riscos sistêmicos devido a eventos climáticos extremos.
Entende-se por riscos sistêmicos nesse estudo, os impactos das interrupções portuárias sobre as cadeias globais de transporte, comércio e suprimentos, causadas por condições climáticas adversas.
Os portos são elos centrais nos fluxos de mercadorias. Movimentam cerca de 80% do volume e cerca de 50% do valor do comércio global. Mas estão localizados em regiões especialmente sensíveis aos impactos de eventos climáticos extremos.
Cerca de 72% das autoridades portuárias que responderam à UNCTAD em 2017 foram impactadas por eventos extremos, causando atrasos (60%), interrupção das operações (76%), somados a danos físicos (45%).
Portanto, entender as interrupções portuárias passadas e projetar mudanças futuras é vital para [criar resiliência na rede global de portos e comércio]. Nesse artigo, abordaremos os principais riscos às operações portuárias associados a eventos climáticos extremos.
1. Interrupções e atrasos nas operações portuárias.
2. Danos à Infraestrutura Portuária.
3. Acidentes e Colisões.
4. Riscos para a Segurança dos Trabalhadores.
5. Perdas financeiras e Custos Operacionais Aumentados.
6. Desafios de Planejamento e Gestão.
Interrupções e atrasos de operações portuárias
A operação portuária é diretamente afetada por condições climáticas adversas como tempestades, ventos fortes, ondas e inundações, com impactos que abarcam desde o cancelamento ou atraso de operações de atracação e desatracação, até a paralisação da operação de retaguarda e cais. Como consequência, perdas financeiras para os operadores portuários, navios e empresas que dependem do transporte marítimo são um fato.
Uma análise das interrupções portuárias devido a desastres naturais entre 2011 a 2019, baseada em 141 incidentes de interrupções em 74 portos em 12 países, constatou alguns resultados alarmantes:
1. Cerca de metade dos eventos levaram ao fechamento total das operações portuárias.
2. Entre esses eventos de fechamento total, a duração média das interrupções das operações portuárias foi de 6 dias.
3. No caso de restrições parciais, os eventos duraram em média 5 dias.
A análise também examinou como a duração da interrupção do porto estava relacionada à gravidade do evento. Descobriu-se que um incremento de 1 m na altura da onda ou 10 m/s na velocidade do vento estava associado a um aumento médio de 2 dias na duração da interrupção do porto.
Danos à Infraestrutura Portuária
Ondas fortes, tempestades e marés altas podem causar danos às estruturas portuárias, como cais, píeres, quebra-mares e guindastes. Nesse caso, o funcionamento dos portos pode ser gravemente prejudicado, com grandes custos envolvidos para reconstruir os ativos portuários e uma interrupção de longo prazo na rede logística.
Segundo o estudo Port disruptions due to natural disasters: Insights into port and logistics resilience, mencionado anteriormente, as interrupções das operações portuárias mais longas estiveram associadas principalmente a danos nas infraestruturas.
Por exemplo, o furacão Katrina em 2005 causou danos de US$1,7 bilhão aos portos da Louisiana, resultando em perdas estimadas em US$882 milhões no comércio agrícola. Após a passagem do furacão, o porto de Nova Orleans ficou fechado por quase 4 meses.
Acidentes e Colisões
Cerca de 90% dos acidentes marítimos ocorrem em regiões restritas ou em águas rasas. Nessas condições, o efeito do vento, mar e corrente se tornam mais significativos sobre os navios por estarem em baixa velocidade. Especialmente, em condições climáticas adversas que podem aumentar o risco de acidentes, como colisões entre navios, entre navios e estruturas portuárias, ou encalhes.
O maior exemplo atual foi o bloqueio do Canal de Suez por seis dias pelo navio Ever Given, em março de 2021. Após encalhar em meio a ventos fortes, o navio, com 400 metros de comprimento, interrompeu o tráfego pela principal rota marítima que liga Ásia e Europa, por onde é escoado 12% de todo o comércio mundial. O comércio global foi interrompido quando centenas de navios ficaram presos.
Riscos para a Segurança dos Trabalhadores
Movimentação de cargas em ventos fortes, manobras de atracação em tempestades, manutenção de navios e infraestruturas e outras atividades em condições adversas aumentam a probabilidade de acidentes e lesões, representando riscos à segurança dos trabalhadores portuários.
Não é incomum ter relatos como o ocorrido em Durban, África do Sul, em 2018, onde um trabalhador portuário foi ferido quando uma pilha de contêineres desabou devido a ventos fortes. O trabalhador sofreu lesões graves.
Em 2016, ventos fortes causaram a queda de um contêiner no Porto de Santos, resultando na morte de um trabalhador portuário. O acidente destacou os riscos à segurança em condições climáticas adversas e expôs a necessidade de utilização de sistemas para gerenciamento do risco climático para salvaguardar vidas.
Custos Operacionais Aumentados
Já vimos que interrupções e atrasos nas operações portuárias devido a eventos climáticos extremos podem resultar em perdas financeiras significativas. No dia a dia operacional, as condições climáticas adversas também podem gerar:
1. Medidas adicionais de segurança e precaução, como sobretaxas no transporte e diminuição do volume de carga, resultam em custos operacionais mais elevados para os operadores portuários e as empresas de transporte. A exemplo do canal do Panamá com a chegada do El Niño em 2023.
2. Danos à carga e custos adicionais para reparos e reposicionamento de embarcações que afetam negativamente a eficiência operacional e a rentabilidade do porto.
3. Necessidade de contratar equipes adicionais e alugar equipamentos especiais para garantir a segurança das operações.
4. Desvios de rotas para evitar áreas perigosas que podem resultar em custos adicionais de combustível, tempo de viagem prolongado e ajustes nos planos logísticos.
5. Perda de fidelidade de clientes devido a paralisações frequentes das operações.
Desafios do Planejamento e Gestão
Gerenciar as condições de mar e tempo de forma eficaz requer planejamento cuidadoso e tomada de decisões antecipadas. Mudanças repentinas nas condições climáticas criam desafios para o planejamento das operações portuárias, que se tornam ainda maiores com o avançar dos impactos das mudanças climáticas sobre o setor portuário.
Para lidar com esses riscos, os portos precisam adotar sistemas de monitoramento meteorológico e marítimo avançados, desenvolver planos de contingência, implementar medidas de segurança e treinamento para os trabalhadores, e colaborar estreitamente com autoridades e organizações relacionadas para garantir operações seguras e eficientes.
O planejamento proativo em relação às condições adversas climáticas necessita do completo entendimento dos riscos climáticos, previsibilidade dos possíveis impactos e planos de ação para mitigação dos riscos.
Veja como começar a resiliência e reduzir a vulnerabilidade a eventos climáticos no artigo sobre os 3 passos iniciais para adaptar os portos às mudanças climáticas.