Impactos do El Niño no setor portuário
Pesquisadores da NOAA, Agência Nacional do Oceano e Atmosfera Americana, alertam que o El Niño que se inicia em 2023 tem mais de 95% de chance de continuar a se desenvolver, com grande probabilidade de ser particularmente forte (67%). Se as previsões se confirmarem, os impactos podem ser significativos.
Um El Niño forte costuma estar associado a eventos meteorológicos extremos. Um estudo recente sobre o efeito persistente do El Niño no crescimento econômico global, publicado na revista Science, estima que o El Niño 2023 pode custar até US$ 3,4 trilhões (cerca de R$ 16,6 trilhões) para a economia global nos próximos cinco anos.
Os anos em que ocorre El Niño tendem a ser mais quentes do que o normal. Portanto, estamos falando de um aquecimento significativo da atmosfera que vai se somar à crise atual de aquecimento global.
Além da temperatura, esse fenômeno altera outros padrões climáticos como a circulação oceânica, o vento, a chuva e os ciclones, com impactos diretos e indiretos nos portos e no transporte marítimo e fluvial. Nesse artigo, falaremos sobre os principais impactos do El Niño para o setor portuário.
1. O que é o fenômeno El Niño.
2. Como o El Ninõ impacta o clima global.
3. Como o El Niño impacta o setor portuário.
4. O que esperar para os próximos meses.
O que é e como funciona o fenômeno El Niño
Muito ouvimos falar do fenômeno El Niño e do seu oposto, o La Niña. Ambos são fenômenos de ocorrência natural que alteram os padrões climáticos em todo o mundo.
O El Niño envolve o aquecimento anormal e persistente das águas superficiais do oceano Pacífico Equatorial. Durante o fenômeno, essas águas ficam, no mínimo, 0,5 °C acima da média por um período de pelo menos seis meses.
Para o desenvolvimento do El Niño, as mudanças que vemos na temperatura da superfície do oceano devem ser acompanhadas por mudanças nos padrões atmosféricos acima do Pacífico tropical. Nesse caso, os ventos alísios perdem intensidade e condições mais secas e maior pressão atmosférica são observadas no Pacífico ocidental e na Indonésia.
Dessa forma, as alterações atmosféricas retroalimentam as alterações oceânicas e vice-versa. Tal efeito é chamado de acoplamento oceano-atmosfera e determina como o El Niño irá se desenvolver e o quanto ele irá impactar o clima em várias regiões do mundo.
A La Niña é o fenômeno oposto, no qual as temperaturas do oceano estão abaixo da média e os ventos alísios se intensificam.
Os episódios de El Niño e La Niña normalmente duram de 9 a 12 meses. Ambos tendem a se desenvolver entre março e junho, atingem o pico de intensidade entre novembro e fevereiro e depois enfraquecem entre março e junho. O El Niño mais longo do registro moderno durou 18 meses, enquanto o La Niña mais longo durou 33 meses.
Agora em setembro, quando escrevo esse artigo, estamos bem no meio do desenvolvimento do El Niño que provavelmente alcançará seu pico entre o final de 2023 e começo de 2024. Mas quais impactos podemos esperar associados a esse fenômeno?
Impactos do El Niño ao redor do Globo
O El Niño altera o padrão climático em várias regiões do globo. Os efeitos diretos compreendem frequentemente o aumento das chuvas ao longo da costa oeste das Américas — banhada pelo oceano pacífico — e a diminuição das chuvas em torno da Indonésia e da Austrália. Provocando inundações de um lado e secas e incêndios do outro.
Embora os impactos mais fortes estejam nas áreas mais próximas do Pacífico equatorial, o El Niño pode alterar a temperatura sazonal e os padrões de precipitação em todo o mundo. Em qualquer década, os anos mais quentes são geralmente os de El Niño e os mais frios são geralmente os de La Niña.
Como todo fenômeno climático, o El Niño não é sempre igual. Além do aumento da temperatura em nível global, alguns dos efeitos mais recorrentes são:
- Secas na Indonésia e sudeste da Ásia, no nordeste da América do Sul e sudeste da África, e
- Excesso de chuvas e tempestades no sudeste da América do Sul, sul dos Estados Unidos e litoral do Golfo do México, ao redor do chifre da África e leste da Ásia.
Outros efeitos do El Niño também incluem condições mais secas em partes da América Central e Caribe, na Índia, no norte e leste da Austrália, no Canadá e no norte dos Estados Unidos.
O desenvolvimento do El Niño, costuma levar a uma temporada de furacões mais ativa no Pacífico oriental e central. Enquanto, a atividade de furacões no Oceano Atlântico diminui.
Impactos do El Niño no setor portuário
No setor portuário, o El Niño pode causar diversos impactos diretos e indiretos devido às alterações nas condições climáticas e oceânicas que ele desencadeia. Alguns dos principais impactos incluem:
1. Impacto nas operações logísticas: Eventos climáticos extremos, associados ao El Niño, podem causar interrupções e atrasos nas operações portuárias que podem se propagar pelas cadeias de suprimentos, resultando em perdas econômicas generalizadas.
2. Inundações e danos à infraestrutura: A combinação de ventos fortes, chuvas intensas e aumento do nível do mar pode aumentar o risco de inundações e danos à infraestrutura portuária, incluindo equipamentos, instalações de armazenamento e áreas de carga e descarga.
3. Variação na demanda de carga: Impactos na agricultura, aumento de furacões no pacífico e menor volume d'água em canais fluviais, podem levar a mudanças na demanda de carga, nas preferências de rotas, atrasos, redução da capacidade de carga e aumento dos custos de transporte.
4. Alterações na manobrabilidade das embarcações: Mudanças nos padrões de vento e correntes oceânicas podem resultar em alterações na hidrodinâmica dos portos, afetando a movimentação de navios, a ancoragem e a manobrabilidade das embarcações.
5. Dragagem mais frequentes: Mudanças nos padrões de correntes e ventos podem contribuir para o assoreamento e sedimentação dos canais de navegação dos portos. Isso pode exigir ações de dragagem mais frequentes para manter os canais em condições adequadas para a passagem de navios.
Para minimizar os impactos do El Niño, os operadores portuários muitas vezes implementam medidas de [gerenciamento de risco climático], como monitoramento climático avançado, planos de contingência para eventos extremos, manutenção preventiva de infraestruturas e coordenação com outros atores da cadeia logística.
O que esperar para os próximos meses
Os climatologistas recentemente anunciaram que o fenômeno climático El Niño já se formou e irá se fortalecer até o final do ano e durante os primeiros meses de 2024. A última vez que o El Niño se formou foi entre 2015 e 2016 — e seus efeitos foram sentidos em todo o mundo.
Com o avançar das mudanças climáticas, o desenvolvimento de um El Niño forte provavelmente levará a um novo pico no aquecimento global e aumentará a chance de quebrar recordes de temperatura.
Historicamente, em anos de El Niño os eventos climáticos não foram necessariamente mais desastrosos do que em outros anos, porém são mais previsíveis. Na ocorrência de El Niño, os impactos podem estar relacionados com um fenômeno climático específico e bastante estudado, facilitando ações de mitigação e adaptação.