Riscos Climáticos

Riscos da mudança do clima nos portos

há 9 meses
4 min

A crise climática é uma das maiores ameaças nos próximos anos, especialmente para o setor portuário. Globalmente, o risco climático total para os portos foi estimado em US$ 7,5 bilhões por ano.

Além dessa estimativa, ao analisar os riscos climáticos enfrentados por 1.340 dos principais portos do mundo, os pesquisadores também mostraram que 86% desses portos estão expostos a mais de três perigos climáticos.

Esses números destacam a necessidade urgente da indústria portuária de compreender e gerir os riscos associados às mudanças do clima. Nesse artigo, abordaremos algumas perguntas chave sobre os impactos da mudança do clima nos portos:

1. Como as mudanças climáticas já afetam os portos?

2. Qual o tamanho do prejuízo para o setor portuário?

3. Por que os portos são tão vulneráveis a extremos climáticos?

4. O que esperar daqui em diante?

5. Como o setor portuário pode criar resiliência climática?

1. Como as mudanças climáticas já afetam os portos ao redor do globo?

O setor portuário enfrenta desafios cada vez mais complexos decorrentes das mudanças climáticas. Um estudo conduzido pela UNCTAD em 2017 com 44 entidades do setor portuário ao redor do mundo, mostrou que 72% dos portos ou terminais sofreram algum impacto de eventos climáticos extremos.

A maioria dos impactos levantados foram nas operações, ocasionando atrasos (60%), disrupções em serviços (76%), com impactos em estruturas físicas dos portos (45%). As projeções indicam que os extremos climáticos aumentarão, com efeitos mais severos em um cenário de aquecimento global mais intenso.

Uma análise das interrupções relacionadas a eventos climáticos e os danos físicos nos 1320 portos mais importantes do mundo, publicada na revista Nature em 2023. Pelo menos, 66 portos tiveram mais de 5 dias de interrupções no ano por condições climáticas e todos tinham o risco de interrupções de pelo menos 1,4 dias ao ano.

No Brasil a situação não é diferente.

Conforme o relatório Impactos e riscos da mudança do clima nos portos da ANTAQ, o setor portuário brasileiro já sente o efeito das mudanças climáticas. Entre os riscos analisados, os vendavais são os mais críticos, com 33% dos portos já em estado de risco alto. Até 2050, 76% atingirão um nível de risco muito alto.

2. Qual o tamanho do prejuízo?

Os portos desempenham um papel vital no comércio global, respondendo por 80% do transporte mundial de mercadorias e cerca de 50% do valor do comércio global. Portanto, interrupções nas operações portuárias podem ter um impacto prolongado em toda a cadeia logística, gerando consequências significativas para o comércio e a economia mundial.

Devido à importância global dos portos, as interrupções e downtimes colocam em risco US$95,8 bilhões da produção industrial e US$26,3 bilhões do consumo, globalmente.

Análises dos danos causados por furacões em portos dos Estados Unidos mostram uma ampla faixa de estimativas, variando de US$46 milhões para o furacão Florence em 2018, a cerca de US$2,2 bilhões para o furacão Katrina em 2005.

A combinação de aumento do nível do mar projetado e tempestades mais severas até 2050 tem o potencial de acarretar bilhões de dólares em danos portuários adicionais relacionados a tempestades e custos de interrupção a cada ano, indica o relatório sobre os custos da inação climática para portos e transporte marítimo da RTI Internacional de 2022.

3. Por que os portos são vulneráveis às mudanças climáticas?

Uma análise das interrupções relacionadas a tempestades em 74 portos de 12 países e descobriu que cada metro adicional na altura do nível médio da água ou cada aumento de 36 km/h na velocidade do vento está associado a um aumento médio de 2 dias na duração das interrupções nas operações portuárias.

Devido à localização estratégica em áreas costeiras e terrenos baixos, os portos estão expostos ao impacto do aumento do nível do mar, tempestades, ondas, ventos e inundações. Essas condições climáticas severas representam um desafio significativo para as operações e infraestruturas portuárias.

Além da localização sensível, os portos são ativos de longa vida útil. E a maioria foi projetada sem considerar o aumento na frequência e na gravidade dos eventos climáticos observados no século XXI.

Os principais impactos do aumento da severidade e frequência dos eventos climáticos extremos nos portos são:

a. Alagamentos de áreas portuárias e suas retro áreas, industriais, rodovias e ferrovias;

b. Cancelamentos e atrasos dos serviços portuários devido a tempestades, chuva forte, vendavais e propagação de ondas;

c. Danos à infraestrutura, como os impactos causados pelo furacão Katrina, em 2005, nos portos dos EUA e do ciclone que atingiu o sul do Brasil em 2020.

d. Interrupção da navegação portuária;

4. O que esperar daqui em diante?

As mudanças climáticas ameaçam a infraestrutura e as operações portuárias, seja pelo aumento do nível do mar, seja pelo aumento da atividade de tempestades e inundações.

Quanto mais quente a atmosfera se torna, mais umidade ela pode reter. Portanto, eventos climáticos relacionados à chuva serão mais frequentes e severos. Também as temperaturas mais altas no oceano aumentam a evaporação, isso gera ainda mais “combustível” para a formação de tempestades.

No Brasil, apesar de não ocorrerem furacões (que são ciclones tropicais), com as alterações do clima, espera-se que ciclones extratropicais se tornem mais destrutivos, ao exceder com maior frequência os limites históricos de intensidade do vento e área de influência.

Segundo o relatório Act Now or Pay Later: The Costs of Climate Inaction for Ports and Shipping, sem uma ação ambiciosa para reduzir as emissões, os impactos das mudanças climáticas podem custar à indústria naval até US$ 25 bilhões todos os anos até o final do século.

5. Como criar resiliência climática no setor portuário?

Não existe uma abordagem única para a adaptação e planejamento da resiliência dos portos diante das mudanças climáticas. Mas a redução do risco climático envolve investimento tanto em infraestrutura, planos de emergência, monitoramento das condições climáticas, governança e gestão para minimizar os possíveis impactos e prejuízos.

A imprevisibilidade crescente de eventos meteorológicos e climáticos dificulta a capacidade dos tomadores de decisão nas indústrias de antecipar, planejar e investir. Portanto, soluções de inteligência e gestão de risco climáticos que permitem a identificação dos impactos e riscos antecipadamente, bem como o diagnóstico dos ativos e operações que serão prejudicadas são de extrema importância para tomadas de decisões proativas e eficientes.

Continuamos com esse tema no artigo sobre Como adaptar os portos às mudanças climáticas.

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Mateus LimaCEO
Por ter nascido em Salvador, meu contato com o mar foi intenso desde criança. Ajudei a fundar a i4sea com o intuito de prever melhor as condições de onda nas minhas praias preferidas até me deparar com às mudanças climáticas e entender que o nosso propósito é adaptar pessoas e negócios a este desafio.
Por ter nascido em Salvador, meu contato com o mar foi intenso desde criança. Ajudei a fundar a i4sea com o intuito de prever melhor as condições de onda nas minhas praias preferidas até me deparar com às mudanças climáticas e entender que o nosso propósito é adaptar pessoas e negócios a este desafio.

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